domingo, 16 de novembro de 2014

Escolha sua ditadura

Vem, ditador, que eu tô facinha.
Nos últimos anos, tem havido uma quantidade cada vez maior de notícias, filmes, livros, informações, posts sendo publicados sobre Getúlio Vargas. E, na maioria esmagadora das vezes, são informações muito, muito, muito positivas e/ou elogiosas a respeito do ex-presidente.

Ele foi até mesmo incluído no livro dos Heróis da Pátria, em 2010.
Nada melhor do que termos sempre novas informações sobre as figuras históricas, mas isto parece mais um "resgate útil" da figura do presidente do que novas informações surgindo.

Getúlio foi conhecido como "pai dos pobres". Foi através de acordos diplomáticos com os EUA que Getúlio conseguiu a instalação da maior usina siderúrgica da América Latina, a CSN. A CLT é fruto de seu esforço, assim como o salário mínimo e o 13º salário. Também soube se utilizar do peso do Estado para industrializar o Brasil (a Petrobrás é um exemplo disso).  
Simbora, que vai dar praia.


Mas o próprio termo "Pai dos Pobres" foi criado pela própria máquina estatal, através do DIP. O acordo diplomático foi uma forma de os EUA pressionarem o Brasil para que não entrássemos na II Guerra do lado da Alemanha e Itália (governos com quem Getúlio, que era nitidamente fascista, admirava). Possivelmente a CLT é inspirada na Carta del Lavoro, do governo fascista de Mussolini (esta afirmação também é uma das que começou a ser contestada, sempre nos últimos anos). Tinha fortes e sérias ligações com Hitler e Mussolini, e o comunismo foi duramente reprimido no país, sendo o partido comunista banido e seus membros perseguidos (o que pode parecer uma ótima atitude para alguns direitistas mais empedernidos). Houve até uma simulação de golpe comunista no país - o plano Cohen.

Quem criou o plano Cohen foi um capitão chamado Olímpio Mourão Filho. Este plano foi o que "justificou" a implantação do governo ditatorial de Getúlio no Brasil em 1937 - para proteger o Brasil dos comunistas. Anos depois, foi revelado que o documento era apenas uma "simulação" para preparar a ação para um eventual golpe comunista real. Mas, como foi tomado como real (intencionalmente, na minha opinião), estavam criados o ambiente, os meios e a decisão de se implantar uma ditadura.

Numa daquelas coincidências que a história nos brinda, quando chegamos a 1964, o primeiro militar a telefonar para os quartéis do Brasil inteiro dizendo "minhas tropas estão na rua!", e precipitando o golpe foi um general chamado... Olímpio Mourão Filho.

Getúlio era um ditador. Com apoio popular, mas era um ditador, do mesmo jeito que Mussolini ou Hitler tinham.

Muitos dizem hoje que, à época, era necessário.

Eu digo não. Da mesma forma que não precisávamos da ditadura dos anos 60-80. Seja ela militar ou não.

Uma ditadura (militar ou civil) é sempre implantada do mesmo jeito: para salvar a população de si mesma. Não existe ditadura popular.


O homem era uma metamorfose ambulante, tipo o Raul.
Mais alguém?
Do ponto de vista das liberdades e dos direitos, não houve grandes vantagens em estabelecermos ditaduras no país. Nem a do Estado Novo, nem a de 64. Ambas foram fundadas com base em medo e mentiras.

Não disse que não houve avanços. Digo que atribuir a conquista de direitos a uma ditadura é, no mínimo, um uma hipocrisia, e no máximo, estupidez. Direitos só são atribuídos permanentemente quando há maturidade suficiente da sociedade para garanti-los. Só um exemplo: o mesmo Getúlio que "liberou" o voto feminino em nível federal em 1931 (o voto das mulheres já era comum em muitos estados da federação) , fechou a Aliança Nacional das Mulheres, entidade que prestava assistência jurídica às mulheres, no golpe de 1937.

Ditaduras atendem a interesses de poderosos. Sejam eles burgueses, industriais, líderes ou políticos.

Não há ditaduras para proteger os interesses da população.
Precisa sim, mas de olhos bem abertos
para não cair nessa conversa mole.


Mas a história é contada pelos vitoriosos. E hoje, quem está no poder (e seus satélites regiamente recompensados, e os idiotas úteis para o regime) tem a necessidade de criar uma imagem de um herói e um mártir, para que atitudes semelhante sejam justificáveis.

E está cabendo a Getúlio a este papel, neste momento.



Panteão dos Heróis da Pátria
Getúlio Vargas
Plano Cohen
Olímpio Mourão Filho

Nenhum comentário:

Postar um comentário