sábado, 8 de novembro de 2014

Pra todo mundo que defende uma intervenção militar

Na lista de coisas que eu não vou sentir falta, está a intervenção militar.
Para todos que defendem uma intervenção militar agora no Brasil, só porque seu candidato perdeu. Ou porque o estado de coisas a que chegou o país é insuportável. Ou porque tem a certeza de uma revolução bolivariana está a caminho por causa do Foro de São Paulo:
Não. Não defendam.
Vocês armaram, vocês que desarmem. Tô fora.
Para todos aqueles que estão defendendo o impeachment da presidente eleita já, mesmo que não haja ainda um julgamento:
Não, não defendam.
Não há muito mais o que falar. Democracia é isso, o governo da maioria. Ou, pelo menos, da maioria que se interessou por política, que se interessou em votar. Da maioria que foi manipulada de um jeito ou de outro. Mas, ainda assim, da maioria.
Não defendam uma intervenção militar.
Defender uma intervenção militar é defender que a mesa pode ser virada quando não se gosta do resultado do jogo. Defender que o povo brasileiro não sabe votar, e que ele tem de ser tutelado por um grupo qualquer. É tirar do povo o direito de errar e aprender.
É querer impor a sua vontade ao resto do Brasil. Mas, ao mesmo tempo, entregando-a a outros grupos.
Deixe que os militares defendam o Brasil das ameaças externas, não de si mesmo, dos votos de sua população.
Não há outra forma de ganhar numa democracia: votando e sendo votado. Elegendo e sendo eleito. Aprendendo e ensinando. Crescendo com a democracia.
Não confundo democracia com utopia. Ela tem muitas falhas.
Mas a liberdade do país, de sua população, crescer e amadurecer sua própria democracia não pode ser interrompida; está descontente? Trabalhe para que tudo mude. Informando-se. Conquistando mentes através de discussões, conversas, presenças, críticas fundadas.
Não defendam um impeachment sem o processo legal. Sem investigação.
Não há processos, não há julgamento quanto à presidente. Não há motivos para impeachment.
Já devíamos ter aprendido: não se dá um golpe para evitar um suposto golpe.
Defendam a investigação. Defendam os resultados. Defendam o patrimônio do país, a Petrobrás.
Deu trabalho chegar aqui. Nada de jogar fora.

Mas não defendam impeachment sem motivos reais.
Sem ela – por mais que não seja perfeita – não nos diferenciaríamos dos países que criticamos. Seríamos mais uma ditadura.
A ameaça de intervenção militar ou de um golpe de impeachment já é, em si, motivo para um golpe governista.
Motivo para vitimização.
Motivo para quem defende isso ser classificado como antidemocrata.
Não somos 50%. Mas também não estamos off.
Você, de oposição, foi apoiado por quase 50% da população. Seu candidato, sua vontade de mudança imediata perdeu. Mas, na democracia, mesmo o quase tem poder. Na democracia, as minorias tem poder para pressionar o parlamento e mudar o país - vide muitos dos direitos conquistados.
E, você faz parte de uma minoria de 51 milhões de brasileiros. É uma minoria capaz de pressionar, democraticamente, para ver valer suas opiniões, direitos, conquistas.
É assim que se constrói uma democracia. É assim que se ganha.
Você quer uma democracia? Não defenda uma intervenção militar. Não defenda um impeachment, baseado em notícias de jornal.
Defenda a liberdade de imprensa. Defenda o seu voto, e, por incrível que pareça, os seus parlamentares eleitos. Exija que eles defendam você.
Há muitas formas em que você pode empregar sua energia, utilizar seu descontentamento. A defesa uma intervenção militar ou de impeachment neste momento não é uma delas.
Trabalhe para mudar. Dê valor aos impostos que você paga. Exija mudanças. Através do seu discurso, da sua influência, do seu voto.
Não através da condenação sem julgamento, que um dia pode ser sua.

Não através de um tanque, que um dia pode ser apontado em sua direção.

Nenhum comentário:

Postar um comentário