domingo, 7 de dezembro de 2014

É o golpe, é o golpe!

É o golpe da direita reacionária hidrófoba, quero dizer, lobo.

Já reparou que, para o governo e seus apoiadores, qualquer manifestação, opinião, procura pela justiça, crítica é sempre acompanhada de uma afirmação de que é "golpe"?

Vamos lá: em primeiro lugar, não acredito em teorias conspiratórias gigantescas de iluminattis ou de Códigos da Vinci. Simplesmente porque o gasto de energia e recursos para manter um movimento deste tamanho é imenso, e ninguém se coloca numa empreitada dessa se os benefícios obtidos forem menores do que seus gastos - e aí incluo também qualquer esquerda, mesmo a mais extremada. Fora isso, manter um grupo de seres humanos extremamente poderosos (com poder econômico, político ou popular) coeso requer um grau de aderência a um projeto milenar que só se vê em poucas e boas histórias de ficção. Sempre vai haver um Batman pronto a acabar com a Liga da Justiça no primeiro movimento estranho. Mas acredito sim num mover de mentes, numa "massificação" de uma ideia quando ela é amplamente difundida, repetida, e usada em qualquer situação. Já falei disso aqui na tentativa de livrar Getúlio Vargas de sua identificação com a ditadura, com golpe, com o fascismo e com a perseguição à imprensa e a liberdade política (Escolha sua ditadura).

Como brasileiros, a maioria de nós (os pensantes, ao menos) execra os termos "golpe" e "ditadura". A grande maioria de nós não quer voltar a qualquer ditadura (e a situação e os partidos do eixo situacionista faz questão de adjetivar essa ditadura, especificamente a militar) e todos ficamos tentados a eriçar os pelos quando ouvimos a palavra "golpe".

Proposição para um símbolo de um
eventual próximo golpe militar.
Pois bem. O marketing do partido situacionista (algo que funciona perfeitamente bem, temos de reconhecer) tem repetido com uma constância avassaladora o termo "golpe" para qualquer situação que se apresente desfavorável. Um discurso mais forte no congresso é indicado como "tentativa de golpe". Uma manifestação contrária ao governo, ainda que popular, "é golpe". Uma revista que publica notícias contra o governo é "mídia golpista". Um cidadão que se apresente a favor de uma auditoria nas urnas é "golpista" e quer ter um "terceiro turno das eleições".
OK, há alguns cidadãos que defendem a "intervenção militar" para salvar nosso amado e querido Brasil da república bolivário-cubana, que, aí sim, eu concordo: intervenção militar é um nome mais polido para golpe. Só que o marketing do partido situacionista, claro, aproveita esse movimento desses cidadãos (apesar de eu achar completamente errado, eles tem todo o direito de fazer isso) para misturá-lo com as oposições. E note o "as oposições" no plural. Ainda que essas oposições se apresentem como democráticas. Juntar tudo no mesmo pacote é o mesmo discurso que a candidata oficial usou em sua campanha, de que os projetos sociais iriam acabar caso ela não fosse eleita: o discurso do medo. "Nos somos péssimos, mas os outros defendem coisas bem piores".

General Olímpio Mourão Filho.
Presente na história brasileira.
A questão não é simplesmente a situação ficar repetindo isso. A questão é o discurso acéfalo, repetitivo e  homogenizado de alguns apoiadores, vendo fantasmas de golpe em todo o lugar. Eles foram muito bem adestrados em acreditar que fora dos limites de nossa ilha de paz e prosperidade do governo atual existe um mundo conturbado e sem razão*.

Golpes se evitam não a ficar vendo fantasmas e ameças em tudo que é contra o governo - daqui a pouco, a justificativa do golpe vai ser a mesma de sempre, para salvar a nação de sua população. Golpes se evitam com educação, com o fortalecimento dos poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário), com o fortalecimento da imprensa livre de influência governamental. É é uma corrente: a imprensa livre força o governo a tomar as medidas corretas, os poderes fortalecidos conseguem dar uma melhor qualidade de vida a população, inclusive em sua educação, e uma população bem educada pode receber as informações de uma imprensa livre e julgar se são de confiança ou não, realimentando o ciclo.

Golpe, e mesmo falar em golpe, é uma coisa séria. Lembre-se de que o que "justificou" o golpe de 37 e também o golpe de 64 foram ameaças de outros "golpes" - o plano Cohen e a ameaça comunista, e que a mesma pessoa estava envolvida nos dois (Olímpio Mourão Filho, primeiro como capitão e depois como general do exército). Chega-se ao ponto de chamar esses movimentos de "contragolpes" por causa disso.

Pois é: falar em golpe em ações democráticas como manifestações (cidadãos na rua defendendo uma auditoria nas urnas), discursos no congresso (como não está acostumada a uma oposição, a situação fica pedindo que se "desça do palanque"), ou mesmo a votação da lei do calote (a que mandou a Lei de Responsabilidade Fiscal para o limbo - aliás, parabéns oposição pelas 19 horas de cansaço) é apenas marketing do governo, mas pode levar a uma justificativa de um novo golpe.

Ficar repetindo isso sem qualquer critério é apenas imbecilidade, mesmo.

Ah, e antes que me perguntem, eu não classifico as mentiras e métodos utilizados para conquistar a eleição como "golpe" e para se livrar da lei de responsabilidade fiscal. Foi apenas crime e canalhice, mesmo.

David Araújo

PS.: Pra não esquecer, como os parlamentares votaram em relação à LRF, do site Congresso em foco:
Votação da morte da LRF.


É o Lobo! © HannaBarbera.

* Bem Brasil, Premeditando o Breque.







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